terça-feira, 21 de julho de 2020

Especialista alerta riscos de investimentos com retorno rápido

Uma nova onda de aplicação está tomando conta do WhatsApp e de outras redes sociais. Com a promessa de ter investimentos com retorno rápido, aplicando R$100 e conseguindo lucrar R$700, a “Roleta Solidária” reúne características tradicionais de uma pirâmide financeira.

O método que usa um modelo de mandala oferece promessas de lucro fácil em meio a crise econômica causada pela pandemia da Covid-19. No entanto, é necessário atrair novos participantes para manter o sistema funcionando.

FinanceOne conversou com a especialista Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia-fundadora do escritório Ikedo Investimentos, para alertar sobre os riscos de investimentos com ganhos rápidos.

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Imagem com uma nota de cem reais e uma nota de cinquenta reais para ilustrar o texto sobre investimentos com ganhos rápidos
Investimentos com retorno rápido trazem uma série de riscos

Risco em casos assim é de perda total, alerta especialista

De acordo com a especialista, o risco é de perda total do capital investido. “Em 2019, vimos inúmeros casos assim, no qual golpistas enganaram milhares de pessoas e ficam com recursos”, disse.

Luciana ainda explicou sobre a taxa básica de juros em nosso país, que é a Selic e que norteia os investimentos conservadores, como a poupança ou o Tesouro Selic, por exemplo.

“Ela (a taxa Selic) também representa o custo mínimo do dinheiro para operações de crédito. A modalidade de investimentos em que, no momento, inicial já se sabe qual será a remuneração é chamada de Renda Fixa, que tem como principal referência a taxa básica de juros e que hoje está em sua mínima história, que é 2,25% ao ano”, disse Luciana.

Por isso, a rentabilidade prometida na “Roleta Solidária” não faz o menor sentido, segundo a assessora de investimentos.

“Quando comparamos essa rentabilidade de 2,25% ao ano com a rentabilidade prometida na tal ‘Roleta Solidária’, que é de 700% em alguns poucos dias, percebemos que não existe o menor fundamento uma rentabilidade assim”, completou.

Além disso, Luciana explicou que a “Roleta Solidária” pode se tratar sim de uma pirâmide financeira:

“Em momentos de crise e de dificuldades econômicas e financeiras, como o que vivemos, inúmeras oportunidades surgem com algo que parece ser um milagre. Só que de fato só parecem, porque na verdade são sim pirâmides financeiras que lesarão muitas pessoas se continuarem a serem propagadas”.

Atenção com promessas de investimentos com retorno rápido

Investimento é algo e sério e regulamentado no Brasil. Por isso, muita atenção com promessas fora da realidade. Segundo Luciana, quando os ganhos são inacreditáveis e rápidos, normalmente são golpes.

Questionada sobre qual solução ela recomendaria para alguém que já está envolvido na “Roleta Solidária” ou em caso parecido, a especialista explicou que a melhor maneira é sair imediatamente e entender que investir significa consistência e recorrência.

Além disso, Luciana deu um exemplo sobre o tipo de investimento que a pessoa pode fazer se tiver R$100 — valor inicialmente cobrado para participar da “Roleta Solidária”.

Segundo ela, o conselho é que a pessoa invista no Tesouro Direto, em uma cota de fundo imobiliário ou até mesmo no mercado de ações.

“O mercado oferece inúmeras opções seguras, com rentabilidade maior do que a poupança, e que não lesarão o investidor como as pirâmides financeiras”, finalizou.

Como funciona a roleta solidária, que promete retorno rápido

A “Roleta Solidária” funciona da seguinte maneira: são criados grupos no WhatsApp ou no Facebook com 15 pessoas. O convidado precisa depositar, inicialmente, R$100 na conta pessoal de quem está no centro da mandala, como exposto nas imagens abaixo.

Imagem retirada de um grupo do WhatsApp

Após isso, todos os participantes começam a chamar mais pessoas para que uma por vez consiga chegar ao centro da mandala e, assim, receber o dinheiro de outros novos participantes.

De acordo com relatos, a pessoa consegue receber o dinheiro em menos de uma semana depois de ter entrado.

Imagem retirada de um grupo do WhatsApp

Mas o que acontece quando param de entrar novos membros?

A resposta é simples: a “Roleta Solidária” quebra totalmente. Isso porque ela só gira quando há novos participantes.

Com isso, ela acaba deixando prejuízo para as últimas pessoas que aplicaram ou reaplicaram o dinheiro.

Participar de pirâmide financeira é considerado crime

Como bem lembrou a especialista Luciana, a “Roleta Financeira” nada mais que uma pirâmide financeira. A prática de pirâmide é enquadrada pela Justiça como crime contra a economia popular.

O art. 2º, da Lei 1.521/51, fala em: “obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos (“bola de neve”, “cadeias”, “pichardismo” e quaisquer outros equivalentes)”.

O Código Penal também fala sobre a prática. De acordo com o Código, os participantes do esquema podem ser condenados por estelionato com pena de reclusão, sendo de um a cinco anos, além de multa, conforme o artigo 171.

O artigo descreve que: “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.”

Portanto, muita atenção na hora de participar de grupos que prometem ganhos extraordinários e rápidos.

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